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O conforto e o desconforto equivalem-se, a forma como evoluem diferencia-se. Entre estas balizas, os actos de ver e observar alteram-se.

Hugo Brito
Randonneurs Portugal Nº 20140227
Paris Brest Paris 2023

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Adorei o ambiente do Paris-Brest-Paris, tanto os voluntários como as pessoas nas ruas sem esquecer as bancas a oferecer água e alimentos. Tudo incrível.

Paulo Campelo
Randonneurs Portugal Nº 20160339
Paris Brest Paris 2023

É noite, no campo, não há vento, só o som da corrente e pneus zunindo. Vejo um grupo de ciclistas prostrados num matagal, equidistantes, geometricamente fulminados.

A observação primária dentro do cansaço: múltiplos acidentes, constantes, uma maré de azar de acidentes.

O que é? Sono, um sono quase teatral, pela forma como os ciclistas vão cedendo ao cérebro e dormindo nas bermas, nas posições mais exóticas, algumas delas sugestivas das múltiplas nacionalidades presentes (sentados, de cócoras, de pernas dobradas como budas …).

Ver estas formas estáticas surgir da escuridão, iluminadas pela luz dos velocípedes, transporta-me para um museu, mais precisamente para as ruínas de Pompeia.  Observando descontextualizado é um pouco sinistro, mas é belo, tal como o PBP.

O conforto e o desconforto equivalem-se, a forma como evoluem diferencia-se. Entre estas balizas, os actos de ver e observar alteram-se dramaticamente.

Penso em Ballard, nas distopias urbanas e automobilísticas. Estas foram rurais e velocipédicas.

Hugo Brito

Com voos tratados e a não conseguir estadia foi uma azáfama até me lembrar de alugar uma autocaravana. Uma excelente opção.
Era um brevet que tinha em mente desde que me iniciei nestas andanças. Em 2019 consegui as credenciais mas compromissos impediram de estar presente.
Este ano lá consegui!

Chegamos a Rambouillet no sabado dia 19. Levantei a documentação e fui até á autocaravana do Pedro dar duas de letra.

Eis que chega o domingo, dia 20, foi verificar se tudo estava ok e ir para a zona de partida. Bike control ok, primeiro carimbo e seguir para a zona de arranque. Aí encontrei o Pedro que me deu os últimos concelhos, que valeram ouro.

Saí com o objetivo de fazer 600km seguidos, dormir e depois seguir para mais 300 kms. Nova paragem para dormir e fazer os 300km finais.

Segui o conselho do Pedro e evitei na fase inicial seguir a malta mais acelerada para evitar acidentes. Mais tarde fui saltando de comboio em comboio de maneira a manter um ritmo confortável.

Adorei o ambiente do Paris-Brest-Paris, tanto os voluntários como as pessoas nas ruas sem esquecer as bancas a oferecer água e alimentos. Tudo incrível.
O percurso passa por sítios fantásticos recheados de aldeias medievais que sem ser duro a distância lá ia fazendo as suas mossas.

Tive a preciosa ajuda da esposa e filhas que fizeram questão de acompanhar ao longo de todo o percurso o que permitiu rolar sem preocupação nenhuma.

Sem dúvida uma experiência a reptir.
Paulo Campelo