"...os campos de trigo, Randonneurs no meio de girassóis, pequenos castelos, que passeio delicioso..."

Mário Mota
Randonneurs Portugal Nº20160344
Paris Brest Paris 2019

Les conquérants de l’inutile

1º Etapa  Rambouillet – Mortagne au Perche

Chegada à linha de parida às 16h15, para saída às 17h00. Estou entretido a olhar para as bikes e diferentes de nacionalidades que estão à minha volta.

Primeiro carimbo… espera… Partida!

A saída faz-se ao som das palmas e incentivos.

Deixo-me ir…a velocidade é elevada, passados alguns km o pelotão alonga e decido subir no grupo para não ficar num corte.

Estou na frente…agora aguenta…mantenho-me na frente durante uns 15km, altura em que começam a aparecer reforços. O dia está perfeito.

O vento começa a castigar nos primeiros prados descampados, mas vamos rodando e depressa chegamos a Mortagne-au-Perche.

WC, bidons cheios, uma baguete e sigo….

2º Etapa – Mortagne au Peche – Villaines-la-Juhel

Partida em descida…o dia termina…vou ligar a luz…salta o elástico…a luz mete-se nos raios e …primeiro percalço.

Decisão rápida: coloco a suplente, apanho a partido, compro uma nova no próximo posto!!

Gosto da noite, os km passam a voar.

Continuo com um bom ritmo e alcanço um pequeno grupo.

Um Randonneur simpático, que está a fazer o PBP com o filho, partilha que em Brest os quartos são duplos e não em dormitório, esta informação será importante para decidir o local do meu primeiro descanso.

Chegada ao posto de controlo debaixo de palmas, uma constante nesta aventura.

Os Franceses são incansáveis no que respeita a incentivar.

Paragem no mecânico, compro uma luz e pilhas suplentes.

WC, bidons cheios e carimbo. Mais uma baguete e siga!!

3º Etapa – Villaines-la-Juhel – Fougères

Rapidamente se junta um grupo de 3 para passar a noite, o ritmo é bom e vamos alcançando mais Randonneurs que vão aumentando o grupo.

Chegamos a Fougères, a temperatura no posto de controlo é elevada …será complicado voltar ao frio…

WC, bidons cheios…dois pain au chocolat, carimbo e allez!!

4º Etapa – Fougères – Tinténiac

São 5h30 e sei que em breve nasce o dia, a minha parte preferida em qualquer Brevet:Sol e calor!!

Esta ligação é curta e depressa chego a Tinténiac.

Pequeno-almoço reforçado…

5º Etapa – Tinténiac – Loudéac

Esta ligação foi um preambulo para o constante parte pernas que caracteriza esta aventura, alternamos estradas rurais com as vias mais movimentadas.

Loudéac – almoço reforçado e pequena sesta de 30 min

6º Etapa – Loudéac –St Nicolas-du-Pelem

Começa a sentir-se algum calor e aproveito a paragem para beber algo fresco.

Oferecem-nos bolo mármore…como um inteiro…

Trocamos algumas estórias com uns Italianos e um Irlandês divertido.

O Irlandês comentava o vento, dizendo que sempre que sai de casa apanha vento de frente, vira à direita e apanha vento de frente, vira novamente à esquerda e o vento estava novamente de frente…uma personagem!

7º Etapa – St Nicolas du Pélem – Carhaix

A ligação é curta e junta-se um grupo forte que rapidamente alcança Carhaix.

Um Baguete, orangina, pequena conversa com Finlandeses e siga para Brest!!!

8º Etapa . Carhaix – Brest

Vinha agora a etapa que todos referiam como mais difícil.

A floresta fresca é perfeita para as primeiras subidas, a paisagem é fabulosa.

Depressa chega a subida do Mûr, é uma pequena montanha com 320 m, mas a chegada ao topo desvenda uma vista deslumbrante!!!

Chego a Plougastel, com a ponte de Brest no final da descida, por volta das 20H00…ainda vou passar a ponte de dia!!!

Somos surpreendidos por locais que nos oferecem morangos: nada melhor que este fruto para festejar a primeira vitória.

Aprendo que Plougastel é conhecida pela produção de morangos, em tempos a produção era exclusivamente para Inglaterra, tendo-se construído um pequeno aeródromo para fazer voar os morangos frescos…se non è vero…

Fotos da praxe na ponte e siga…fartei-me de passar por pizzarias…quero uma pizza!!

Encontro uma a chegar ao posto.

Carimbo, quarto e duche reservado, o jantar é feito com calma e em boa companhia, os mais experientes referem que o regresso será penoso…

Duche tomado, visto a roupa lavada pronto para ser acordado às 4h30.

9º Etapa – Brest  – Carhaix

A noite está fria e escura, pequeno-almoço com baguete e pain au chocolat.

Rumo a Carhaix, está frio e húmido, as subidas aquecem mas as descidas rápidas arrefecem.

O topo do Mûr é feito ao amanhecer, mais uma vez: deslumbrante!!!

Vou com um compagnon de route inglês que tem uma coluna e a primeira música: Credence – Bad Moon Rising – ficará para sempre ligada aquele momento.

Primeira cara conhecida o Luís!!!

Encontro o José e Arlindo em Carhaix, apetece contar tudo e mais alguma coisa mas é preciso continuar…

10º Etapa – Carhaix – St Nicolas du Pélem

Paragem numa Boulangerie para pequeno-almoço e abastecimento.

Um local refere que desde pequeno que adora ver os ciclistas do PBP passar, esta prova está enraizada na cultura local.

Rapidamente chegamos a St Nicolas, pequena porção de massa e Orangina.

11º Etapa – St Nicolas du Pélem – Loudéac

A ligação é curta e num pequeno grupo, chegamos tranquilamente.

Almoço prolongado e descanso à sombra

12º Etapa – Loudéac – Tinténiac

Arrancamos a bom ritmo, passa um casal Alemão, o marido a puxar, seguimos na roda, vai se juntando cada vez mais unidades. O comboio mais rápido de toda esta aventura…60 km a um ritmo alucinante.

Decido ficar para trás com uns holandeses, estava perigoso e vamos seguir os km finais a um bom ritmo sem loucuras.

Chego a Tinténiac e encontro o Helmut sentado à minha mesa, espalhou classe ,mas nota-se que vai ter de ficar mais algum tempo, a descansar, para voltar e encher as pernas…

Apercebo-me que nunca parei em Quédillac!!!!

Aproveito para filmar uma dança tradicional, é uma festa!!!

13º Etapa Tinténiac – Fougères

Ligação curta. Jantar no MacDonalds à entrada da vila.

Fougères é deslumbrante, na vinda passei durante a noite.

Paragem no controlo para relaxar e mais uma conversa com uns Franceses, está muito calor dentro do pavilhão.

Preparo-me para a etapa seguinte, quero dormir em Villaines-la-Juhel.

14º Etapa – Fougères- Villaines-la-Juhel

Etapa longa com passagens baixas muito frias.

A floresta é escura, começo a ficar sem luzes…decido parar para trocar pinhas na próxima povoação.

Paro junto a uma casa…as pilhas que me venderam não são adequadas!

Peço ajuda a uns locais que não poupam esforços para encontrar as pilhas corretas.

Pilhas novas… continuo, forço o ritmo durante alguns km mas a etapa é longa e desgastante, chego a Villaines –la – Juhel vazio…

Monto arraial debaixo de uma mesa, encho a minha almofada estou pronto para o descanso do guerreiro… não consigo adormecer, um fulano ressona ao meu lado…

Adormeço e durmo 2 horas.

Acordo gelado a tremer, bebo duas malgas de café e como 3 pain au chocolat…vamos embora…

15º Etapa – Villaines-la-Juhel – Mortagne au Perche

Arranco ainda de noite a um ritmo baixo, ainda não recuperei…começo a ver os primeiros Randonneurs nas longas retas e o dia ajudam-me a aumentar o ritmo.

A subida para o posto traz consigo o primeiro sentimento de saudade, a aventura está quase a acabar.

Almoço com massa e Orangina e pequena sesta debaixo de uma árvore, o sol aquece-me suavemente.

16º Etapa – Mortagne-au-Perche – Dreux

Com pouco mais de 100 km para acabar decido ir o mais devagar possível para aproveitar, ao máximo, as últimas horas.

Os campos de trigo, Randonneurs no meio de girassóis, pequenos castelos, que passeio delicioso.

17º Etapa – Dreux – Rambouillet

Está muito calor, fico no pavilhão a descansar e a trocar experiências com Ingleses acerca do LEL.

Não me apetece arrancar…significa que vai terminar.

Tem de ser…vamos …e, depressa se chega a Rambouillet.

Todos batem palmas, é uma sensação de euforia, faço a última subida até à bergerie no prato grande!!!

Chegámos!!!

Todos sorriem, os que chegam, os que já chegaram, o sentimento é universalmente partilhado: conseguimos!!!

Último carimbo e medalha ao peito.

Positivo:

  • Temperatura quase perfeita durante o dia
  • Locais a apoiar ao logo do percurso
  • Estradas em excelente estado
  • Organização exemplar
  • Multiculturalismo
  • Festival da bicicleta

Negativo:

  • Problemas de iluminação na bike!
  • GPS desligou algures depois de Carhaix, perdi o track, nunca tinha feito mais de 600km!

Nota final:

O facto de estarem presentes todo o tipo de ciclistas, e estilos de pedalar, faz com que qualquer um possa disfrutar desta aventura à sua maneira.

Não existe uma maneira de fazer o PBP, existem mais de 6000…

No final fica uma Saudade enorme, e é fácil esquecer a dureza do Brevet.

Dois pontos fulcrais: estar preparado fisicamente e psicologicamente para lidar com os desafios constantes.